Tirar proveito da experiência vivida por Campo Grande MS, enquanto recordista nacional de acidentes de trânsito, deveria ser a tônica das autoridades constituídas, no sentido de concentrar o foco nas ações corretivas e educativas, otimizando recursos públicos e fundamentalmente, obtendo a parceria, o engajamento da população.
Acompanhando o histórico dos acidentes diários, conhecendo as informações divulgadas pelo SAMU e pesquisando dados estatísticos junto aos registros disponíveis, é possível constatar que a imensa maioria dos eventos está intimamente ligada aos seguintes fatores, obedecida a ordem de freqüência/importância:
1-Atitude temerária dos condutores, não relacionadas com velocidade.
2-Inadequação do sistema viário da cidade
3-Alcoolismo e drogas
4-Excesso de velocidade, isoladamente.
5-Precariedade dos itens de segurança e condições de uso dos veículos
A combinação de fatores, principalmente os dois primeiros, tem causado as maiores e mais freqüentes tragédias do cotidiano campograndense, sendo este conjunto o mais carente de atenção do poder público, já que a questão do alcoolismo, das drogas e do excesso de velocidade, está ao alcance da autoridade policial com a ostensividade pertinente.
É muito comum constarmos, diariamente e em todos os quadrantes da Capital, veículos desrespeitando semáforos, transitando em contramão, realizando conversões indevidas, ignorando as regras das preferenciais, fazendo manobras bruscas e imprevistas, disputando rotatórias, dividindo faixas de rolamento, transitando em velocidade excessivamente baixa, parando em fila dupla, estacionando em esquinas de forma a obstruir a visão dos outros condutores, manobrando sem sinalizar e vários outros comportamentos de risco, desprezando a existência dos demais veículos e pessoas.
Por outro lado, verifica-se facilmente a existência de inúmeras “chocadeiras” de acidentes, como a falta de sinalização horizontal, rotatórias mal dimensionadas, espaços de conversão inadequados, semáforos deficientes, obstáculos e defeitos na pavimentação, estreitamentos de pistas, imposição do “terror” através dos radares ( constate-se as freadas bruscas nas imediações dos equipamentos), liberalidade excessiva na competição de ônibus e caminhões com os demais veículos, principalmente pela falta de espaço e desorganização, injustificados cruzamentos e determinação de preferenciais, etc.
Citemos algumas:
-Conversões e cruzamentos na Av. Manoel da Costa Lima
-Rotatória do Hospital Universitário
-Buracos e valeta no cruzamento da Rua Rui Barbosa e Prof. Severino R. de Queiroz
-Rotatórias da Av. Duque de Caxias
-Rotatórias da Av. Julio de Castilhos
-Conversões da Rua Ceará
-Conversão “particular” do Atacadão Universidade Federal
-Conexão da Av. Fernando Correa da Costa com Via Morena, centro bairro, com apenas uma faixa de rolamento para conversão.
-Cruzamento Av. Mascarenhas de Morais com rua Uruguaiana, Comper Ipê
-O Corredor da Morte da Rua Rei Fernando/Rua da Divisão
-Semáforo de três tempos da Via Morena com Américo Carlos da Costa
-Intersecção da Via Park com Av. Afonso Pena
-Precariedade da Rua Spipe Calarge
-Limites de velocidade incoerentes em diversas ruas
-Falta de sinalização horizontal ( no asfalto) para velocidade, conversões, preferenciais, etc.
-Convivência de ônibus e veículos de menor porte nas Av. Zahran, Afonso Pena, Rua 14 de Julho, Rua Rui Barbosa, Av. Costa e Silva, Av. Calógeras, Rua Antonio Maria Coelho, Avenida Mato Grosso, etc.
-Ângulos de intersecção que impossibilitam a visibilidade do tráfego.
Poderiam ser listadas várias centenas de itens parecidos, ou de maior potencial.
Ao dimensionar a distribuição viária, a prioridade deve ser o usuário e não apenas a construção dos acessos com a transferência do problema do desconforto, da falta de operacionalidade, da razão, da decisão e do risco para o público.
Há que se trabalhar de forma preventiva.
Atuar de forma simplesmente punitiva e objetivando o controle da velocidade e do estacionamento regulamentado como prioridade, apenas teve, até o momento, a capacidade de gerar indignação generalizada, colocando os agentes (a administração e o povo ) como inimigos entre si.
É fundamental que a população seja parceira das idéias e projetos da administração pública, mas isto somente será possível quando houver clara constatação de que o órgão agente de trânsito estiver fazendo a sua parte, priorizando o bem-estar social, trabalhando para o povo com medidas lógicas e produtivas, inteligentes, éticas e de boa fé, ao ponto de conquistar a adesão em massa, o aplauso.
Se o problema é uma questão essencialmente comportamental, cultural, não é a “ferro e fogo” que as coisas serão resolvidas.
Nem animais aceitam este tipo de atitude.
Sugiro que os gestores estudem o sistema de “Doma Racional” aplicado mundo afora na doutrinação de cavalos, onde pancadas e berros cederam lugar a confiança, carinho, respeito e mutualismo.
Confiamos em que o novo gestor, Dr. Rudel Trindade, tenha um comportamento oposto ao do titular anterior, caso contrário continuaremos a produzir morte, invalidez, tristeza, prejuízos e descrédito...
...e continuará na sua luta desesperada, o SAMU, coordenado pelo Dr. Cury.