29 de dezembro de 2008

= COPA 2014 : CAMPO GRANDE X CUIABÁ

O anúncio de R$ 1 bilhão em investimentos para favorecer a escolha de Cuiabá-MT como sub-sede da Copa de 2014, me parece um contra-senso.

Sabe-se que o estádio lá existente, o Verdão, não tem a menor condição de ser preparado para o evento, assim como as vias de acesso, a localização e outros fatores fundamentais que estão definitivamente aquém das necessidades e exigências mais básicas de logística, dentre as quais figuram acessibilidade, segurança, transporte e porque não dizer, paisagismo.

A estrutura atualmente mantida é mais do que suficiente para os eventos locais, como campeonatos regionais e até mesmo nacionais, inclusive com alguma sobra.

Construir um novo estádio ao custo de R$ 350 milhões resultará numa capacidade obsoleta após o evento, fadada à deterioração paulatina, a exemplo do próprio estádio Governador José Fragelli.

Por outro lado, o montante bilionário anunciado, se efetivado, refletirá total falta de bom senso administrativo, mesmo porque existem outras áreas que exigem, há muito tempo, um cuidado imediato e prioritário, dentre os quais estão o saneamento básico, educação, saúde e segurança.

Os investimentos prometidos e a realização da Copa tendo Cuiabá-MT como sub-sede apenas serviria para, de um lado privilegiar os mais abastados em detrimento da sofrida população menos afortunada, e de outro atender questões políticas e megalomaníacas de governantes e políticos.

Esta concorrência com Campo Grande MS ratifica um bairrismo histórico, nocivo e que de certa forma acaba por prejudicar o cidadão comum, até porque este não terá acesso aos benefícios diretos proporcionados pelo investimento e pelo evento propriamente dito, ficando apenas com as sobras temporárias, a admirar o “elefante branco” nascido de uma febril incoerência.

Numa abordagem mais crítica e decorrente da vontade de se conferir à copa do mundo uma roupagem ecológica, fica a mácula da famigerada política expansionista do atual governador do Estado, que parece não cultivar o mínimo respeito à floresta amazônica, tanto que, justa ou injustamente ( não me é pertinente ) ficou conhecido nacionalmente como “Moto-serra de Ouro” ou algo parecido.

De qualquer forma, é fácil constatar que a atitude da CBF é inconseqüente enquanto prolonga as esperanças até o limite do razoável, propiciando uma inevitável e nociva frustração da cidade preterida, arraigando sentimentos inadequados entre as populações.

Chega a ser sádica, maquiavélica mesmo.

Então, diante da divulgação dos investimentos de Mato Grosso, qual será o próximo lance da Prefeitura de Campo Grande-MS ? Onde isto vai parar ?

O formador de opinião pública deve primar pela responsabilidade.

Fica nítido que Campo Grande MS está mais viável, necessitando de investimentos menos faraônicos por possuir melhores estruturas instaladas, ser mais próxima de outros países e até mesmo dos grandes centros esportivos, econômicos e populacionais do Brasil.

O que não consigo constatar é um envolvimento efetivo do povo sul-matogrossense, um engajamento coletivo que tenha a capacidade de comover os mandatários do projeto Copa do Mundo 2014.

Um exemplo do ceticismo de nossos cidadãos é proporcionado pela votação do Pantanal como Maravilha Natural, visto que tem auferido uma adesão muito baixa.

Reivindico à CBF e FIFA, bom senso e humanidade, uma visão mais ampla sobre as conseqüências de seus devaneios e posturas feudais. Isto aqui não é quintal para brincadeiras de quem porventura tente fazer o papel de Deus.

Exigimos mais respeito, pois o merecemos.

14 de dezembro de 2008

= RIO AQUIDAUANA, FILHOTE DE TAQUARI ?

É deprimente acompanhar a gestação de mais uma vala insossa, que parece ser o futuro do velho e teimoso rio Aquidauana.

Como se não bastasse o exemplo do rio Taquari, além de outros, a ganância, a ignorância, o desleixo, a inconseqüência e a omissão imperam e nada é feito no sentido de estancar o processo de degradação completa, onde todas as modalidades de danos ambientais são aplicadas.

Este curso d'água tem suas nascentes entre Bandeirantes e São Gabriel D'Oeste, no Mato Grosso do Sul, regiões em que já se iniciam os maus tratos.

Às margens de seu trajeto existem apenas 03 cidades e uma meia dúzia de corrutelas, cuja geração de lixo e esgoto urbanos, à exceção de Aquidauana e Anastácio, é ainda pequena e facilmente controlável.

Neste sentido, seria um rio privilegiado, não fossem os crimes verificados em sua cabeceira, onde a agricultura e pecuária são conduzidas de forma inconseqüente, fartamente comprovada por imagens de satélite disponíveis na internet, através das quais qualquer leigo constatará a morte de nascentes e varjões sob os discos dos arados, verificará e até conseguirá medir o que fizeram com as matas ciliares, que em alguns pontos já inexistem e noutras, não passam de 5 metros.

Concomitantemente, há o despejo de defensivos agrícolas, à guiza de uma produtividade cujo efeito colateral é a morte, tal qual um vírus que se alimenta do organismo em que vive, até seja exaurido.

Os tributários do rio Aquidauana, tais como o Cachoeirão, Ceroula, Vermelho, Dois Irmãos, Taquarussu, São João, Jatobá e outros, têm sofrido exatamente do mesmo mal, potencializando os efeitos nocivos.

Tragicômico verificar que o maior poluidor urbano, o algoz-mor, adotou o nome da vítima e se vangloria disso, e ainda intitula-se porta de entrada do pantanal.

Fico a imaginar se, caso pudesse ser vendido e transportado para outro país, quanto valeria o rio Aquidauana, acompanhado de sua beleza, piscosidade teimosa e características diversas que apresenta ao longo de seu curso. Quanto pagariam os franceses, norte americanos, italianos, espanhóis, etc.?

É difícil aceitar que este rio, com porte de ribeirão, possa comportar a pressão da pesca comercial, a qual, na verdade, não garante sustentabilidade ou qualidade de vida a ninguém, visto que as comunidades de pescadores profissionais vivem à mingua, favelados, dependentes de cometer alguma predação dentro ou fora dos períodos de defeso, buscando assim um algo mais para não passar fome. Aqui não cabe hipocrisia, todo mundo sabe disto.

Nós, brasileiros, costumamos nos qualificar como espertos, todavia os argentinos proibiram no inicio de 2008 o abate dos “dourados gigantes” que vivem em suas águas, exemplares do mesmo porte daqueles facilmente encontrados no passado, e hoje inexistentes no rio Aquidauana.

Não temos mais tal privilégio, já os consumimos ou os espantamos, enquanto os hermanos faturam horrores com o turismo de pesca do “el tigre”.

Ficaram com a última e melhor fatia do bolo.

Há alguns anos deixei de oferecer a opção rio Aquidauana a amigos de outros estados, pescadores esportivos por consciência, devido à vergonha de apresentá-los ao lixo enroscado nas matas ciliares ou flutuando nas águas do rio, dentro do perímetro e após as cidades de Aquidauana e Anastácio.

Também já tenho receio de conviver com o esgoto urbano residencial e industrial despejado e à vista de qualquer um sem o menor pudor. Há o risco da hepatite, portanto, já é um problema de saúde pública.

Impossível entender que estas cidades ainda admitem o uso em larga escala, de sacolas plásticas, de garrafas pet, que aceitem o deposito de pneus e outros objetos dentro do leito do rio.

É um caso de má educação do povo.

Como se não bastasse, a especulação imobiliária se sobrepõe e loteia as margens do rio em chácaras de lazer desprovidas de qualquer critério, povoando-as de pessoas sem o menor respeito àquilo que os cerca, à medida em que desmatam, constroem, deformam os barrancos, criam voçorocas particulares, praticam a ceva com soja e vão embora para voltar somente na próxima semana, matando tudo o que sai vivo da água, em quantidades muito superiores ao seu consumo consciente.

Existe uma miríade de loteamentos que, de tão irregulares, sequer conseguem fornecer escritura aos proprietários, algumas com mais de 25 anos nesta condição. Mas ainda estão lá, com seus tablados flutuantes, gabiões de pneus e lixo à vontade.

É preciso saber que o rio Aquidauana não é um piscinão de ramos, nele existem outros sêres vivos que não podem mais se defender sozinhos, tal a sanha do ser humano. Rio Aquidauana é sinônimo de Pantanal e portanto, um santuário.

Se por um lado não temos o direito de dizimar tudo o que encontramos, por outro podemos usufruir inteligente e sustentavelmente de tudo o que a natureza oferece.

Este rio é especial em todos os sentidos, é um importante fornecedor para o pantanal, é imprescindível para reprodução de várias espécies, é pródigo na variação de características estruturais, boa acessibilidade, tem a metade de sua extensão sem aglomeração humana, e, admiravelmente ainda tem um potencial turístico considerável, desde que se saiba recuperá-lo para utilizar.

A maioria de nós, nascidos aqui, construiu uma história e a relação de uma vida com o rio Aquidauana, e este fato deve ser respeitado.

Vemos nos dias de hoje, uma verdadeira operação de guerra para salvar o que resta do rio Taquari, em projetos que prometem mas não assinam contrato de risco, tal a incerteza de resultados.

Fala-se em R$ 500 milhões.

Onde estão os causadores dessa desgraça que afetou de forma tão grave o nosso pantanal?

Certamente muitos já não estão vivos, outros já venderam suas propriedades rurais e se foram.

Este é o ciclo, os que ficam chafurdam nos dejetos daqueles que partem em busca da qualidade de vida ou de outra área para degradar, lastreados nos ganhos obtidos por meio dos crimes cometidos.

Órgãos de fiscalização e preservação do meio ambiente, prefeituras, governo estadual e assembleia legislativa, o que estão esperando? Reviver o pesadelo Taquari ?

Limite na potência dos motores de popa, recuperação das estruturas ciliares, recomposição das nascentes, proibição do transporte de pescado, encerramento da pesca comercial, eliminação das sacolas plásticas e garrafas pet nas cidades ribeirinhas, tratamento dos esgotos, interdição de chácaras irregulares, licenciamento especifico para o turismo de pesca esportiva e ou contemplativo...

Ainda há tempo !

12 de dezembro de 2008

= SEGUROS E SIGILOS

O relato de um consumidor, dando conta de que teve sua proposta de contrato recusada pela companhia de seguros, gera enorme curiosidade não apenas pelo fato em si, mas também pelo método adotado.

A negativa formal foi feita através de carta onde foi alegado motivo técnico.

Apelando por esclarecimentos, recebeu informação verbal de que o motivo técnico na realidade era a constatação de restrições cadastrais no seu CPF, mas que tal detalhe não poderia ser escrito e assinado.

Consultando um Corretor de Seguros, agente do mercado e reconhecidamente um defensor do segurado diante do Código de Defesa do Consumidor, verifiquei que este tipo de ocorrência é muito comum, todavia carece de legalidade e é pleno em constrangimentos.

Sabe-se já existem processos de sofisticação deste mecanismo utilizado pelas Seguradoras no sentido de avaliar o risco moral do negócio, além do risco intrínseco e físico, estes, os verdadeiros objetos contratuais.

Visando se isentar da formalidade, ciente do aparente ilícito, o segurador está precificando os contratos a partir de pesquisa cadastral, que por sua vez resulta em agravamento oneroso do valor a ser pago pelo proponente possuidor de restrições, de tal forma que o próprio consumidor se recuse a efetivar o negócio. Caso aceite mesmo assim, estará pagando um preço aviltante.

No bojo das pesquisas cadastrais para obtenção do score que definirá o preço da proposta, parece não haver limites e regras, literalmente vale de tudo.

Obtêm dados do Serasa, do Imposto de Renda, do nível de endividamento junto a instituições de crédito, dos acidentes pregressos, das infrações de trânsito, e sabe-se lá mais o que.

Antes da aplicação deste novo aparelho avaliador, já houve negativa verbal, em virtude de que a renda do proponente não comportava o patrimônio objeto da proposta.

Entretanto, muito acima dos dados estatísticos que porventura demonstrem um maior índice de prejuízos dentre aqueles que têm restrições, ou que não atendam os critérios das companhias de seguros, está o direito do cidadão, está a Legislação, está o princípio da boa-fé e da universalidade.

Entendendo melhor e simplificando a estrutura deste segmento, fica claro que a Companhia de Seguros é outorgada pelo Poder Público para administrar o mútuo daqueles que contratam o seguro, existindo regras, normas, portarias e Leis que regulam sua conduta.

Portanto, agir da forma como descrita, fora de uma investidura judicial, é obviamente investigar, discriminar, julgar e penalizar o cidadão por situações que nem sempre dizem respeito ao verdadeiro objeto do contrato. Deslealdade pura, chega à beira da promiscuidade.


Ministério Público e demais Órgãos de Defesa dos Direitos do Consumidor, tomem pé da situação, não esperem uma denúncia integral, carregada de provas, pois é muito difícil obtê-las. Questionem os Sindicatos e demais entidades componentes do mercado segurador e façam valer a ordem e a justiça.

11 de dezembro de 2008

= TRÂNSITO X CELULAR

Não é mais um privilégio!

Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, é uma cidade pujante cuja população definitivamente tem um perfil trabalhador.

Estatísticas demonstram que 79% dos cidadãos possuem celulares, na grande maioria como ferramenta de trabalho voltada à disponibilidade e eficiência profissional.

A legislação de trânsito proíbe o atendimento de ligações ao conduzir veículos, o que é de uma sensatez esplêndida. Todavia, é de reconhecermos que há pouco respeito por parte dos motoristas sob a justificativa de que a dinâmica dos negócios, da acirrada concorrência em cada mercado e da demanda por atendimento a clientes e fornecedores não lhes permite outro comportamento.

A aplicação de multas para tais infrações ocorre em patamares excepcionais, alimentando o que alguns classificam como Indústria.

Simplesmente combater a situação com penalidades não é a melhor atitude, visto que inibe o fluxo de produção e onera inevitavelmente o cidadão, sem qualquer chance de interromper o ciclo vicioso.

Se é um problema da modernidade, crônico, ao alcance da percepção de qualquer pessoa, resta o questionamento:

Vereadores e administradores do sistema viário, quando poderão compreender que a questão é contemporânea e irreversível, que requer a instituição de locais e estacionamentos específicos para atendimento de ligações por celular ?